Nem sempre é facil falar sobre o envelhecimento e a morte às crianças. Emboro seja um facto da vida , tentamos sempre ludibriar estes acontecimentos.
O Amigo Aires Placido deixa-nos uma reflecção sobre a liberdade o envelhecimento e a morte.
Ao Benjamim
Se é que há no céu um paraíso em flor para as aves,
o Benjamim está lá com toda a certeza
dezassete anos de cativeiro é muito tempo.
Valia-lhe de vez em vez voar pela casa toda.
Certo dia saiu pela janela, foi por aí –
VIVA A LIBERDADE!
Saí à rua, ninguém o vira.
Eu rua abaixo rua acima perguntando
por um periquito azulinho celeste.
Já tinha passado meia hora e,
do Benjamim nada.
Nisto, já quando menos o esperava
surge no ar aquela bolinha de ternura.
Dei um grito: - Benjamim!
Poisou à minha frente esbaforido.
Na minha mão senti o seu coraçãozinho,
batendo freneticamente.
A liberdade, para quem não tem condições
para a viver é muito perigosa.
Benjamim não era um periquito qualquer,
tinha aprendido algumas palavras e assobiava.
Não era um periquito de cantar à periquito,
Beijoqueiro, gostava de pousar nos meus ombros
bicar nas minhas orelhas.
Os anos foram passando,
por volta dos quinze anitos
o reumático tomou conta dele
a velhice é uma chatice e é bem verdade...
O Inverno tombava - lhe a graça.
Dava dó vê-lo no fundo da gaiola
com a cabecita debaixo da asa,
via-se nele o sofrimento.
As dores, as dores…
o tempo de poleiro tinha chegado ao fim.
Numa manhã de Primavera
fui dar com ele sem vida no fundo da gaiola.
Foi triste.
Dezassete anos não são dois dias...
e o Benjamim não era um periquito qualquer.
Numa caixinha de cartão,
num chão pintado de papoilas e malmequeres
despedi -me do Benjamim, repeso
de o ter mantido tantos anos preso.
Aires Plácido